O rei da turnê! Não era a intenção no começo, mas de um ingresso comprado, em 2022, ele foi em um show, depois, em mais um, em outro, e até que tudo virou um único objetivo: completar os 11 shows da banda Coldplay em mais uma passagem pelo Brasil. Felipe Schadt, de 34 anos, morador de Jundiaí (SP), dividiu os perrengues, o planejamento e o sonho de conseguir o violão do vocalista.
Professor universitário e amante da música, ele conheceu a banda britânica em 2005, por meio de um amigo que apresentou a música “In My Place” e como uma virada de chave, depois de se arrepender em não ir a um show em 2011, decidiu que não perderia mais nenhum.
“O primeiro show deles que fui, foi na turnê Viva La Vida. Mas eles vieram no Rock in Rio, não fui e me arrependi amargamente. Foi numa dessas que falei que a próxima vez que eles viessem eu iria e ponto. Aí, aconteceu, em 2016, o show em São Paulo. Eu fui. 2017, eu fui também, e fui no Rock in Rio, ano passado”, detalha.
Mas, a saga dos 11 shows começou de forma parcialmente planejada quando, em abril, a banda anunciou três apresentações no Brasil e Felipe resolveu que iria em todos.
“Lançaram o Rock in Rio, depois na sequência os shows do solo e eu comprei todos, mas eram três. Ai, eles lançaram mais um: ‘ah, quem vai em três vai em quatro’. Depois lançaram outro e falei: ‘quem vai em quatro também vai em cinco’, e fui comprando sem saber se realmente eu ia.”
“Todos os shows que lançaram em abril do ano passado eu comprei, mas não eram 11. Era coisa de seis shows. Depois do cancelamento, adicionaram mais shows e eu já estava tão na vibe, tão na saga do show que falei: ‘gente, vou em todos’. Eu já tinha feito isso pelo U2”, conta.
Planejamento financeiro
O espaço entre os anúncios das apresentações no Brasil ajudou na organização financeira do fã. Quando Schadt já estava terminando de pagar os primeiros shows, começou a pagar os outros que lançaram e, assim, foi utilizando da reserva que fez durante a pandemia.
“Eu consegui economizar dinheiro porque, felizmente, no meu trabalho a gente não foi muito afetado e eu gastei pouco na época. Meus gastos giram em torno de lazer, então, foram dois anos praticamente sem fazer isso. Claro que com meu salário, eu fiz alguns freelas, consegui juntar um dinheiro que já estava reservado. Eu sabia que eles viriam em algum momento”, explica Felipe.
Com muitas risadas, ele conta que chegou a ficar preocupado com o desafio que se propôs a fazer e com a quantidade de shows que o Coldplay estava anunciando no país. “Eu pedia: ‘por favor, parem de lançar show’. Já estava na minha cabeça de que iria em todos os shows que eles fizessem no Brasil. Quando tinha algum anúncio em grupos de fãs, eu já tremia. Mas eu não ia parar, sou orgulhoso, iria até o final.”
Felipe diz que a média dos gastos no total, incluindo alimentação, hospedagem, ingressos, entre outros, ficou entorno de R$ 6 mil a R$ 7mil. “Todo mundo fala que sou rico, mas eu falo que sou professor e juntei dinheiro. Deixei de fazer algumas coisas para fazer outras. Priorizei isso”, diz.
Para as viagens de avião, ele utilizou milhas. Em Curitiba, ficou na casa de um primo para economizar, e no Rio de Janeiro, se hospedou em um hostel.
Óculos do Bono foi o ponta pé
O sonho de conseguir o violão do vocalista Chris Martin não surgiu atoa. De acordo com Felipe, foi em 2017, quando conseguiu o óculos, que viu um algo impossível se tornar realidade.
“O Bono não dá o óculos para as pessoas assim. É um item muito complicado, é a marca registrada dele. Foi ali que percebi que o impossível pra mim, nesse quesito show, é um detalhe”, conta.
Pensando em algo diferente para se destacar no meio da multidão, Schadt criou um personagem: um marciano que veio até a terra para conseguir o violão do vocalista. Tudo foi feito de forma estratégica, a mesma que utilizou com o U2. “O violão do Chris Martin é um violão muito bonito, estilizado. Seria legal ter um violão do Chris Martin. Comecei a planejar. Como o álbum é todo ‘ambientalizado’ em universo, sistema solar, planetas, eles brincando muito com a questão de alienígenas.”
“Eu uso um óculos amarelo, fiz algumas camisetas com referências a Marte. Esse é o plano, ir nos shows, em lugares diferentes do estádio, com a mesma placa sempre na grade. Fiz uma bandeira, na verdade, porque sabia que ia chover em São Paulo e o papelão iria esfarelar. Pedi pra minha mãe costurar um tecido pra mim, comprei EVA, cortei as letras e colei. Tem que ser na grade porque ela é grande e vai atrapalhar as pessoas. Faço de tudo pra ficar na grade e ele sempre vai me ver ali em algum momento e ficar na cabeça dele. Quando ele me viu em Curitiba, ele ficou genuinamente feliz, interagiu muito comigo”, diz.
A estratégia para ser notado vem funcionando e a equipe já reconhece o professor nos shows, cumprimenta pelo nome e até alguns presentes recebeu, como uma palheta, botons e o setlist impresso dado pelo diretor de palco do Coldplay. “Ele sabe o que eu quero, sabe que eu vou estar lá nos 11 shows. Agora, vai depender dele”, comenta.
Perrengues
Nem tudo são flores e a lista de perrengues cresce a cada apresentação. O primeiro e marcante foi enfrentar a forte chuva em uma segunda-feira, em São Paulo, onde ele até pensou se valia a pena todo esforço para acompanhar a turnê. “Choveu o tempo inteiro, foi muito difícil aquele dia”, relembra. Já no Rio de Janeiro, o maior problema foi o calor. Felipe conta que enfrentou 43ºC com a sensação térmica de 50ºC.
Além das condições climáticas, enfrentou dias na fila. “Em São Paulo, eu dormia na fila, chegava um dia antes, dormia para garantir meu lugar. Quando era show seguido, eu saia do show e voltava pra fila. Ficava ali algumas horas até chegar mais alguém e avisava pra ir tomar um banho e já voltava. Eu acampo em fila desde 2011, sou desses”, detalha rindo.
Aprendizado
“Eu tenho uma frase que não é minha, é deles e isso eu tô levando pra caramba: ‘If you want love, beloved’, se você quer amor, seja amor. Estou aprendendo muito isso nessa turnê, de querer ajudar todo mundo. O carinho que eu ganho é o que tento dar para as pessoas que estão ali comigo, passando perrengue na fila. Gentileza, o Coldplay ensina a gente a ser gentil. As pessoas se odeiam com muita facilidade. Eu ligo para as pessoas que estão sendo gentis comigo. Estou aprendendo a ser gentil com as pessoas”, afirma.
(Fonte/Imagem: G1/Globo)
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