Foram semanas e mais semanas de uma luta árdua para José Ideval de Lima Orides, de 74 anos. Ele ficou 99 dias internado com Covid-19 em um hospital de Jundiaí (SP) e conseguiu voltar para casa no início de julho. O momento da saída do hospital teve a participação especial da equipe médica, com direito a uma serenata. “Nós ficamos impressionados, porque, mesmo nessa situação de vulnerabilidade total, ele fez amizade com todo mundo do hospital”, diz o filho, Paulo Orides.
Paulo contou que o pai foi internado no Hospital Pitangueiras no dia 22 de março. Segundo ele, José estava com a saturação em 84. “Ele, como sempre foi ativo e forte, não querendo nos preocupar, foi andando até o carro e do carro até o atendimento no hospital”, conta.
Depois de quatro dias na enfermaria e com 50% dos pulmões comprometidos, o idoso foi transferido para a UTI da unidade e precisou ser sedado e intubado. “Nós nos unimos em correntes de orações, praticamente paramos nossas vidas. Era angustiante receber apenas uma ligação por dia para receber o boletim médico”, lembra o filho.
Foram mais de 70 dias de intubação e com diversas intercorrências. De acordo com a família, José precisou passar por hemodiálise, lidar com uma infecção por bactérias, pneumonia e um procedimento de traqueostomia. “A equipe da UTI achou melhor realizar o procedimento da traqueostomia e, aos poucos, retirar a sedação para que ele tivesse uma recuperação melhor, mas ele não acordava. Nesse momento, suspeitaram até de um possível AVC, já que, mesmo sem a sedação, ele não interagia”, conta.
Com quase 80 dias internado, a equipe médica resolveu chamar a família do idoso para uma visita para tentar fazê-lo despertar. “Tomando todos os cuidados e atendendo aos protocolos da UTI, eu e minha mãe fomos visitá-lo. Foi desesperador, um verdadeiro choque, ele estava muito inchado, realmente não interagia. Mas, mesmo assim, encontramos forças para dizer a ele, sem saber se estava ouvindo ou não, que estava tudo bem, que estávamos com saudade”, conta Paulo.
Três dias depois da visita, José acordou e, aos poucos, começou a interagir com a equipe médica. “Mesmo sem voz, cada um foi aprendendo a se comunicar com ele com leitura labial e, por incrível que pareça, ele fez amizades com todos da UTI”, conta o filho.
Em seguida, o idoso foi transferido para a enfermaria. No entanto, ainda no quarto, José e a família precisaram lidar com algumas intercorrências e a equipe médica chegou a cogitar a possibilidade de levá-lo novamente para a UTI. Mas, depois de realizar alguns exames e constatarem a razão das quedas de saturação, o idoso recebeu a notícia que esperava havia tanto tempo: estava de alta.
José fez questão de distribuir chocolates para a equipe que cuidou dele durante os 99 dias em que esteve no hospital. Em troca, ganhou uma serenata no momento em que saía do quarto. Agora, ele segue o tratamento em casa. Paulo conta que o pai não precisa mais do apoio de oxigênio. “Ele está muito focado na fisioterapia, já iniciando a dieta sólida e começando os exercícios em pé”, explica.
A família diz que decidiu compartilhar a história de José como uma forma de espalhar amor e esperança para pessoas que estão passando por um momento difícil. “Temos certeza que tudo irá passar e voltaremos a nos abraçar. Sentimos na pele essa guerra solitária. Quando eu perguntava ao meu pai o que era mais difícil, ele respondia prontamente que era a solidão. Queremos motivar outras famílias com essa mensagem de que vale a pena lutar pela vida”, finaliza.
(Fonte: G1 / Imagem: Arquivo Pessoal)
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